terça-feira, 9 de junho de 2015

UGTpress: DOMENICO DE MASI NO BRASIL

DOMENICO DE MASI: passou pelo Brasil o sociólogo italiano, professor da Universidade de La Sapienza e autor de três livros que fizeram algum sucesso e foram muito bem recebidos nos meios intelectuais,  entre o fim do século passado e o início deste. Em entrevista de página inteira na Folha de São Paulo (Mercado A17, em Primeiro de Maio de 2015), Masi criticou seus colegas pensadores brasileiros e reiterou as teses inscritas em sua trilogia (Desenvolvimento sem Trabalho, em 1999; Ócio Criativo, em 2000; e O futuro do Trabalho, em 2001). Especialmente "Ócio Criativo" teve grande repercussão. O autor foi um dos primeiros a tratar dos temas relacionados com o impacto das novas tecnologias no mundo do trabalho. Para ele, a tecnologia exclui sim, postos de trabalho e há necessidade em certos setores de reduzir drasticamente a jornada de trabalho. As empresas reagem vigorosamente contra a redução das horas trabalhadas e, em geral, os governos se aliam aos empresários. Os trabalhadores notam que estão trabalhando cada vez.

MARXISMO: a tese de Karl Marx é revisitada. O capitalismo é o inimigo de si mesmo à medida que racionaliza, simplifica e moderniza os meios de produção: chegará o tempo em que não haverá consumidores para tanta produtividade. Domenico de Masi explica: "Para produzir 100 automóveis eram necessárias 100 horas. Se hoje são necessárias 50 horas, ou o total de trabalhadores trabalha metade do tempo de antes ou teremos metade dos funcionários. Os que ficarem sem trabalho não poderão mais consumir, para quem vou produzir tantos automóveis? A conta não fecha" (idem, idem). Bem, por enquanto (e talvez permanentemente em tempos recentes), estamos vivenciando as crises -- globais, regionais e locais. Essas crises envolvem o crescimento do desemprego e a redução dos benefícios sociais. Em resumo, não estamos ainda sendo beneficiados por esse novo e maravilhoso universo tecnológico. As jornadas de trabalho, na prática, têm aumentado e não são reduzidas em nome de uma tal de "competitividade".

REESTRUTURAÇÃO DA RIQUEZA: Domenico de Masi não debita as crises mundiais na conta da modernização. Para ele, as crises são transitórias. Complementa: "Isto é uma reestruturação da riqueza. Na Itália, dez pessoas têm a mesma riqueza de 6 milhões de pessoas. No mundo, 85 pessoas, incluindo 12 brasileiros, têm a riqueza de 3,5 bilhões de pessoas. Esses 85 bilionários podem comprar muitas Ferraris, mas não vão comprar 3,5 milhões de calças, vestidos e sapatos. O consumo cai, a produção cai junto" (idem, idem). Podemos acrescentar: o desemprego se instala entre as pessoas mais necessitadas. No Brasil, a concentração de riqueza existe desde sempre e tem aumentado. As ajudas sociais, tipo Bolsa Família, amenizaram muito o quadro de desequilíbrio social. Estranhamente, as classes mais favorecidas são aquelas que mais criticam as ajudas sociais.

IMPOSTOS COMO SOLUÇÃO: Domenico de Masi coloca o dedo na ferida, defendendo impostos altos para os ricos. Para ele, a solução, para combater essa concentração ou reestruturação da riqueza, é implantar uma rigorosa justiça tributária. "Só pagando impostos. Impostos Altos. Na verdade, a maioria das 85 pessoas mais ricas do mundo é formada por ladrões de impostos. Eles sonegam impostos e, quando pagam, o fazem na Holanda, onde são mais baixos. São pessoas que financiam campanhas eleitorais em barganha por leis que os favoreçam. E isso alimenta o ciclo da desigualdade". Parece até que está discorrendo sobre o Brasil.

OUTRAS IDÉIAS DE MASI: em sua longa entrevista, Domenico de Masi disse que os intelectuais brasileiros têm o "complexo de vira lata" e enxergam o Brasil como um país de terceiro mundo, quando os números e a realidade desmentem isso. Também afirmou que o mundo vive uma "luta de classe às avessas", onde os ricos lutam contra os pobres, citando o Brasil como exemplo: "Hoje, Dilma é vítima de uma vingança neoliberal. Aécio Neves perdeu as eleições, e o movimento neoliberal se voltou contra Dilma, que não é pior do que outros presidentes. A corrupção sempre existiu no Brasil. O Brasil tem mil outros problemas para resolver ... Há um grande desencontro entre o Brasil real e o Brasil intelectual" (idem, idem).

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