terça-feira, 19 de julho de 2016

UGTpress - MIGRAÇÕES: OUTRAS ANÁLISES

MIGRAÇÕES: segundo as estimativas mais sólidas, existem cerca de 240 milhões de migrantes no mundo, mais do que a população do Brasil. Esses números não incluem os migrantes inter-fronteiras, coisa comum e numerosos em países da Ásia, África e América do Sul. As ondas migratórias internacionais têm sido constantes desde as mais remotas eras, mas os motivos variaram ao longo da história. Nos séculos XVIII e XIX, o Brasil e outros países se beneficiaram pelo grande movimento de colonos europeus que se espalharam pelo mundo. Esses colonos tinham como objetivo a busca de novas oportunidades e normalmente eram bem-vindos. A situação mudou no século XX e mais recentemente.
 
HETEROGENEIDADE: hoje, os processos migratórios não acontecem só por motivos econômicos, quando o deslocamento horizontal visava um crescimento social vertical. Pela divulgação e exploração midiática do tema, atualmente estamos só sabendo dos deslocamentos dos refugiados sírios, afegãos e outros povos, todos assolados por guerras. Contudo, não é só isso e talvez essa seja a menor parte. Por exemplo, há hoje na África Subsaariana cerca de um milhão de chineses. A constatação é dramática: há mais cidadãos chineses fora da China do que franceses dentro da França. A Índia também possui uma diáspora de vinte milhões de cidadãos vivendo, principalmente, nos Estados Unidos. Segundo o professor Mark Leonard, em artigo para o Project Syndicate, são indianos bem-sucedidos e superconectados. Só de remessas anuais, esses migrantes mandam para a Índia cerca de 70 bilhões de dólares, dinheiro carreado diretamente para a educação dos nativos.
 
POTÊNCIAS INTEGRADORAS: Estados Unidos, Brasil, Israel e outros países, historicamente, têm tido a capacidade de integrar seus imigrantes. Eles se tornaram americanos, brasileiros, israelenses, etc. A pergunta que se faz, é se esses e outros países vão continuar a ter essa capacidade de absorver e aglutinar os imigrantes sob suas bandeiras. Por outro lado, é possível a existência de estados novos, como o Estado Islâmico (EI)? Este movimento (?) já recrutou mais de 30 mil pessoas em 86 países diferentes, gente que viajou para os territórios ocupados pelo EI. O EI seria uma cópia de Israel? Pode se pensar em território, bandeira e independência do Estado Islâmico? Isso é assustador, mas diante da desagregação e deterioração de vastas áreas daquela região, qualquer hipótese pode ser admitida.
 
POTÊNCIA MIGRATÓRIA: o mesmo professor Leonard faz uma advertência estranha e preocupante: poderia existir em futuro próximo uma superpotência migratória? Seja lá o que isso quer dizer, é bom pensar. Há 35 milhões de curdos que veem a si mesmos como uma nação sem país e, apesar disso, são um dos povos mais ativos politicamente do mundo; os muçulmanos, em que pesem as enormes e irreconciliáveis divisões religiosas e geográficas, podem se converter em maioria nos países da Europa onde vivem? Os muçulmanos têm taxas de natalidade infinitamente superiores; a população de Israel, uma salada de nacionalidades unidas por um sentimento religioso, multiplicou por nove a sua população nos últimos 60 anos e, sim, já é uma potência. Os exemplos são muitos, diferentes entre si, mas todos têm como denominador comum a temática da migração. Assunto a se pensar com seriedade.
 
SITUAÇÃO INTERMEDIÁRIA: ainda surfando nas especulações do professor Mark Leonard, ele chama a Turquia de "potência migratória intermediária", país que usa a sua posição geográfica privilegiada para conseguir concessões daqueles vizinhos que temem a imigração. Hoje, a Turquia se transformou num país que exige dinheiro para frear em seu território o fluxo migratório da Síria em direção aos países europeus. A Nigéria está seguindo o exemplo da Turquia e segurando os imigrantes da África Ocidental em direção à Itália. A União Europeia está disposta a pagar um alto preço para impedir a invasão de seu território pelos imigrantes, apesar da evidente contradição e imoralidade desta medida.  Contudo, recentemente, houve um atentado no aeroporto de Istambul e, provavelmente, isso tem a ver com essas situações singulares. A Turquia continuará sendo um barril de pólvora, perigosamente instável.

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