segunda-feira, 12 de junho de 2017

Encomenda da Petrobras pode ser última esperança

Atrás da cerca em torno do Estaleiro Rio Grande, da Ecovix, está o fio de esperança de parte dos trabalhadores demitidos do polo naval. A empresa está parada e em recuperação judicial desde dezembro, após cortar 4 mil funcionários em dois meses, mas a eventual retomada da construção do casco da plataforma P-7 1 empregaria 2,8 mil pessoas por 16 meses, com investimento estimado em US$ 280 milhões. A obra fazia parte do lote de oito unidades encomendadas pela Petrobras em 2010. 

É por conta deste fôlego extra que o Sindicato dos Metalúrgicos, a prefeitura e entidades empresariais tentam convencer a estatal a reativar a construção. Audiências públicas em defesa do polo foram realizadas na Assembleia Legislativa do Estado e no Senado. E os representantes da cidade querem encontro com o presidente Michel Temer em busca de um compromisso para a retomada da obra. 

Em dezembro a Petrobras rescindiu o contrato dos quatro cascos que restavam ser construídos no estaleiro. Em recente entrevista a uma rádio de Porto Alegre o presidente da estatal, Pedro Parente, sinalizou que não há interesse em retomar o projeto e mesmo que essa posição fosse revista, alguém teria que adquirir os ativos da Ecovix, pois a empresa não tem condições financeiras para operar.

O braço naval do grupo Engevix já construiu quatro cascos para plataformas e chegou a ter 12 mil trabalhadores na cidade, mas agora mantém 200 pessoas para fazer a manutenção do local e dos materiais estocados. Com dívida de R$ 8 bilhões, apresentou um plano de recuperação judicial que prevê a venda dos ativos em duas etapas. A assembleia de credores para avaliar a proposta deve ser marcada nas próximas semanas. 

Além do casco da P-7 1, com 50% a 60% da construção concluída, o Estaleiro Rio Grande abriga blocos e chapas que seriam usados nas obras para as plataformas P-7 2 e P-7 3. Conforme o prefeito Alexandre Lindenmeyer (PT), são 147 mil toneladas de metal depositadas no local. "Enquanto não cairmos no esquecimento, temos esperança." 

Para Lindenmeyer e para os dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos, os escândalos que envolveram executivos de diversas empresas do setor naval, apurados pela Operação Lava-Jato, não justificam que o governo vire as costas para o setor. "Se houve corrupção, que se puna os responsáveis, mas não se destrua uma política industrial importante para o país", afirma. 

"O que o operário e a menina do cafezinho da Ecovix têm a ver com a Lava-Jato?", indaga o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Benito Gonçalves. "Enquanto os envolvidos estão com tornozeleiras eletrônicas no conforto das mansões, quem paga a conta são os desempregados", diz o vice-presidente da entidade, Sadi Machado. 

Os dois estaleiros ainda em operação empregam 2,9 mil pessoas, sendo 1,6 mil no EBR, em São José do Norte, e 1,3 mil no QGI, em Rio Grande, mas essas vagas não devem durar muito tempo porque nenhum deles tem perspectiva de novas encomendas. O EBR já faz a integração dos módulos na P-7 4 e nos últimos meses demitiu 600 a 7 00 empregados. 

O QGI mantém 1,3 mil trabalhadores na montagem de módulos para a P-7 5 e a P-7 7 . A construção deve ser concluída até agosto, mas o estaleiro ainda espera pelos cascos que a Petrobras deveria ter entregue em março.

Por Sérgio Ruck Bueno 
Valor Econômico

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