quinta-feira, 17 de maio de 2018

UGTpress: ESCRAVIDÃO E IGUALDADE RACIAL

ESCRAVIDÃO: o Brasil foi um dos últimos países a libertar os escravos. A escravidão foi uma mancha difícil de extirpar, especialmente pela resistência dos latifundiários, barões da agricultura brasileira, que se valiam da mão-de-obra não paga.  Já se reconhece que uma das consequências da abolição da escravatura foi a proclamação da República. A abolição completou 130 anos no último 13 de maio de 2018, um número redondo, sempre capaz de inspirar grandes reportagens e análises sobre o tema, porém, a data passou praticamente em branco, ofuscada pelo Dias das Mães. Embora recente, ainda com muitas feridas abertas e não cicatrizadas, há um mito difundido desde os bancos escolares de que vivemos sob uma “democracia racial”.

GILBERTO FREYRE: o autor do consagrado livro brasileiro sobre “Casa Grande & Senzala” ficou conhecido como um dos primeiros sociólogos do país. Também foi reconhecido como antropólogo e historiador. Como o mais premiado dos autores brasileiros, sua obra permanece, porém não é mais unanimidade. A ele é também atribuído o conceito de democracia racial no Brasil. Um dos seus maiores críticos foi Florestan Fernandes, acusando-o de criar um ambiente de simulação e considerando sua grande obra uma “fábula”. A polêmica, neste momento, não é o principal. Interessa o conceito de democracia racial, que, segundo outros intelectuais, ajudou a forjar uma falsa identidade nacional, uma e outra contribuindo para a para a perpetuação das oligarquias brasileiras, outra praga resistente. 

DEMOCRACIA? Se há dúvidas sobre se, de fato, vivemos em uma democracia, imagine estarmos numa democracia com igualdade racial! Quando as leis de discriminação positiva começaram a ser implantadas no Brasil pelo governo Lula, entre elas as cotas raciais nas universidades, aflorou um sentimento de ódio e revolta em alguns segmentos privilegiados da sociedade brasileira. Não há pesquisa suficiente sobre o percentual de gente contra essas medidas, mas sabe-se que há uma boa parcela da opinião pública manifestando-se contrariada nas redes sociais.

VERDADE: nem precisamos de dados estatísticos – que abundam – para notar o exercício de um racismo explícito entre nós brasileiros. Seja nas escolas, nos clubes sociais, no futebol e nas organizações empresariais ou instituições governamentais, o racismo, mesmo que disfarçado, sempre existiu. Prova disso são os salários mais baixos para os negros, exercício de funções nos baixos escalões e ausência nos principais cargos políticos e administrativos do país. Mais ainda sofre a mulher negra, duplamente discriminada. Os negros são maioria entre os pobres, entre a população carcerária, entre os jovens e entre as mulheres assassinadas. Não foi só Marielle Franco recentemente, mas também Cláudia Ferreira, baleada e arrastada por viatura policial e esta já praticamente esquecida. Enfim, na área dos direitos humanos, as injustiças crescem numericamente quando se referem aos negros, às mulheres e aos migrantes. 

LEMBRANÇA: para analisar esses fatos e comemorar o 13 de maio, a CSA (Confederação Sindical dos Trabalhadores/as das Américas) e o Centro de Solidariedade da AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho), em conjunto com as centrais brasileiras de trabalhadores (CUT, UGT, NCST e CNPL) realizou em São Paulo, nos dias 15 e 16 de maio, a Primeira Reunião Regional do Grupo de Trabalho de Igualdade Racial. Também participou o INSPIR, responsável pela primeira experiência sobre o tema no Brasil. Com representantes de vários outros países das Américas, de fala espanhola e inglesa, o evento contou com representantes da Universidade Mackenzie, Cepal, ONU e OIT. Os resultados da reunião serão divulgados para as organizações sindicais do Continente.  

LIVRO:   no evento, o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Adilson José Moreira, palestrante do primeiro dia com o tema “estratégias de luta contra a discriminação”, aproveitou para distribuir seu livro “O que é discriminação?”  (Editora Letramento/Casa do Direito). O professor Adilson é negro (isso deveria ser dispensável), estudou com bolsas do CNPq e CAPES, terminando por fazer doutorado em direito comparado na Universidade de Harvard e ser professor visitante da Universidade de Yale. Hoje leciona no Mackenzie. Sua palestra fez amplo sucesso.

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