segunda-feira, 29 de outubro de 2018

UGTpress: PAZ E VIGILÂNCIA

ELEIÇÕES: o Brasil terminou de votar, elegendo, na onda mundial, o candidato de extrema direita, Jair Bolsonaro, cuja atuação na Câmara Federal, na verdade, coloca dúvidas para o exercício de um governo pacificador e de reconstrução nacional, como apregoou durante todo o segundo turno das eleições. Queremos que prevaleça a retórica do segundo turno. As organizações sindicais, de esquerda, em sua maioria, se dividiram no primeiro turno. No seguinte, houve casos de organizações sociais e sindicais (ou de vertentes no interior delas) que apoiaram candidatos fora do eixo tradicional, ou seja, pessoas com perfis à direita. Para nós essa rotulação, que vai da direita para a esquerda ou vice-versa, está dentro dos padrões tradicionais: na esquerda aqueles que valorizam os investimentos sociais, defesa dos trabalhadores e forte atuação do Estado; e na direita aqueles que querem a diminuição do papel do Estado, privatizações e desregulamentação da legislação social. Esta segunda opção venceu as eleições.

IMPRENSA MUNDIAL: renomados jornais e revistas do exterior reportaram as eleições brasileiras com preocupação, certamente considerando nossa democracia como uma das maiores do Ocidente, todavia nova e frágil. Ainda na semana passada, a prestigiosa publicação inglesa “The Economist”, em editorial, afirmou: “um presidente com instintos autoritários precisa ser enfrentado por uma oposição democrática unida”. Muitas vozes se ergueram em pleno calor do debate eleitoral contra os perigos da radicalização e, consequentemente, da violência ou intolerância. O medo exteriorizado decorreu das declarações do presidente eleito no exercício de seus mandatos como deputado. Aqui cabe um parêntese para dizer que nem sempre a retórica eleitoral ou de fixação dentro de um segmento do eleitorado será a mesma do exercício do mandato. E, francamente, fazemos votos para que assim seja.

DIVISÃO: embora no Brasil haja uma profusão desordenada de partidos políticos, fruto de um sistema político que sempre desprezou uma legislação estável e permanente, o resultado do pleito mostra clara divisão entre dois polos bem nítidos. Isso foi notório, especialmente, nas redes sociais, cuja influência ainda está por ser apurada com precisão. Nas redes não se reconheceu o brasileiro cordial, louvado por Sérgio Buarque de Hollanda em seu livro “Raízes do Brasil”. Houve claramente um conflito e Maíra Streit, da Revista Fórum, escreveu: “No debate político, importamos do futebol a rivalidade e os palavrões; das novelas, vieram os arquétipos de “mocinhos” e “vilões” e seu consequente maniqueísmo simplificador”. Na mosca!

CSA/CSI: a União Geral dos Trabalhadores (UGT) do Brasil tem laços de filiação com as duas maiores organizações mundiais de trabalhadores, uma nas Américas (Confederação Sindical dos Trabalhadores/as das Américas) e outra mundial (Confederação Sindical Internacional), braços que emergiram de um processo de unidade (Orit mais Clat e Ciosl mais CMT). Essas duas organizações preocuparam-se com o processo eleitoral brasileiro, desde o impeachment de Dilma Rousseff, prisão de Lula e eleições. Antes das eleições, a CSA expediu nota repudiando qualquer ameaça à democracia brasileira e concitando a unidade do movimento sindical para trabalhar contra eventuais retrocessos. Rafael Freire Neto, um dos diretores da CSA, defende imediatamente a organização de uma frente em defesa da democracia e dos direitos humanos no Brasil e no Continente.

EDITORIAL: o boletim eletrônico UGTpress, que existe há muitos anos e atinge mais de dez mil leitores, com uma publicação de edições semanais que ultrapassa 600 números, atreve-se a um raro editorial: “Inspirados pelo conciliador presidente da União Geral dos Trabalhadores do Brasil, Ricardo Patah, declaramos nesta hora ainda difícil e cheia de interrogantes, que o resultado das eleições brasileiras deve ser respeitado. Eventuais abusos necessitam ser apurados nas instâncias oficiais, sejam policiais ou judiciárias. Se a partir de 2019, a direita assumirá o poder, o faz mais pelos erros da esquerda do que por suas virtudes. Aqueles que se postaram ao lado dos derrotados ou dos que se omitiram (e não foram poucos: os vitoriosos não têm um cheque em branco), precisarão oferecer a sua parcela de inteligência e de trabalho às novas forças que assumirão o poder, com as restrições que seguem:  as instituições democráticas devem ser preservadas e devemos ser governados sob o signo do Estado de Direito e pelos sagrados princípios da Constituição de 1988; as organizações sociais e sindicais esperam um diálogo social justo e construtivo,  absolutamente necessário para o desenho de um Brasil com mais igualdade; o combate à corrupção e aos gastos públicos desnecessários, prometidos em palanque, será exigido; entendemos ser preciso ouvir a sociedade, principalmente as vozes discordantes, e não abrimos mão da existência de uma oposição crítica e construtiva, necessária para a sobrevivência da Democracia; concitamos os companheiros de nossas organizações filiadas e de outras vertentes do sindicalismo brasileiro para se unirem. Se a união é um pressuposto constante de nossas atuações, no momento, ela é imprescindível”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário