terça-feira, 13 de outubro de 2015

UGTpress: PAPA FRANCISCO

ANTECEDENTES: ao longo de sua história, a Igreja Católica Apostólica Romana teve altos e baixos, momentos de grandeza e de visão vanguardista ou inovadora e momentos de vilania, retrocesso e conservadorismo exacerbado. Uma história de 2000 anos e surpreende ainda seu vigor e influência sobre parte da humanidade. O mais recente antecedente de participação política decisiva de um pontífice ocorreu no desmanche das repúblicas socialistas do leste europeu. João Paulo II contribuiu para consolidar a resistência democrática na Polônia. Talvez inspirado neste antecedente, o Papa Francisco também tenha se empenhado para a reconciliação de Cuba com os Estados Unidos, algo que já fora objeto de apelo de João Paulo II em 1998, quando de sua visita à ilha. Ele pediu para "Cuba abrir-se ao mundo e o mundo abrir-se para Cuba". Agora, essas duas visitas do Papa Francisco a Cuba e aos Estados Unidos devem ser vistas como continuação deste papel fundamental da Igreja na aproximação entre povos cristãos.
JOÃO PAULO II: os progressos advindos da visita de 1998 foram visíveis: houve um relaxamento do Estado cubano em relação à prática religiosa, desde a adoção do Natal como feriado à relativa autonomia da Igreja em território nacional, o que, na prática, deu à Igreja um status de "instituição independente", algo inédito até então. O Estado cubano passou a ser secular, ao invés de ateu. Mas, parou por aí. Oposições continuaram proibidas e a democracia continuou sendo miragem. Atualmente, os problemas são outros e o maior deles é saber qual a velocidade do processo de abertura em Cuba, incluindo aí o progressivo reatamento das relações com os Estados Unidos. O mundo tem pressa, mas, como já vimos em outras situações semelhantes, quando o Estado mantém o controle, os avanços correm lentamente e com segurança para as autoridades.
FRANCISCO: o papa Francisco é visto de forma diferente, talvez progressista e até anticapitalista. Também os tempos são outros. Hoje, há a propensão para a abertura política e econômica. Mais econômica do que política. A política de partido único seguirá e é possível antever algo parecido com a China: controle político férreo com liberdades econômicas crescentes. Francisco conhece o tema e sabe das limitações que o cercam e, provavelmente, sabe que o direito à associação estará restrito e não haverá liberdade de imprensa. Os discursos em Cuba estiveram dentro do contexto de atualidade, sem qualquer incompatibilidade do que foi falado nos Estados Unidos. Mas, nos Estados Unidos, Francisco sabia que estaria em uma república democrática, cultivadora das liberdades, portanto, poderia exercitar com mais coragem os seus dons de retórica. E foi isso que aconteceu. Não foi surpresa ter abordado em inglês, temas como clima e migração. Não falou só como "bispo de Roma", mas como "pastor do Sul". Cortou na própria carne ao condenar os abusos sexuais de sacerdotes. Pôde até "esquecer" um pouco de Cuba, tema que se tornou secundário em território americano. Mas, vejam:  tudo isso porque foi Francisco quem ditou a pauta.
CORAGEM E DESTEMOR: independentemente dos resultados das andanças e pronunciamentos do Papa Francisco, tanto em curto quanto em longo prazo, a verdade é que se trata de um homem destemido e corajoso. Talvez poucos saibam, mas, sua primeira proposta nos preparativos diplomáticos para visitar Cuba e Estados Unidos, foi a de incluir o México e entrar nos Estados Unidos pela fronteira. Impossível. No seu discurso feito na Bolívia, sua viagem anterior, ele foi extremamente crítico ao capitalismo, o que incomodou os setores mais conservadores da Igreja. Preferiu incursionar por temas igualmente polêmicos e foi saudado pelo povo americano, numa semana em que reinou nos noticiários.
FRANCISCO E A ATUALIDADE: o Papa Francisco tem rara sensibilidade, mas nem sempre acerta a mão. Há críticas quanto à canonização de Junípero Serra, missionário franciscano que trabalhou nas origens da Califórnia. Alguns historiadores apontam Serra como parte da não civilizada colonização espanhola. Em geral, os processos de colonização são rigorosos. A intenção foi criar um símbolo de identidade hispânica em território americano. Francisco capitaliza bem os temas da atualidade e, na falta destes, apela para posições de auto ajuda, abordando questões morais do cotidiano. Utiliza-se muito bem dos meios de comunicação, quase como um talento natural. Vai bem o Papa do Sul. 

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