terça-feira, 4 de dezembro de 2018

UGTpress: PESSIMISMO E LADO NEGATIVO

PERCEPÇÃO: em um dos números passados, UGTpress citou um tema polêmico, em geral pouco aceito pelos meios de comunicação, no qual a percepção da sociedade sobre fatos cotidianos é mais exacerbada quando eles fazem parte da cobertura diária da imprensa. O exemplo estava em relação à compreensão da criminalidade nos Estados Unidos, em geral apontada como alta pela população e, no entanto, desmentida pelas pesquisas dos dados oficiais. Os dados mostravam queda de homicídios nas cidades com mais de um milhão de habitantes. A opinião dos observadores que se debruçaram sobre o problema era que a cobertura midiática estabelecia um padrão de percepção da sociedade que extrapolaria a normalidade, sendo mais alto em função das repetidas notícias da mídia sobre o assunto. De fato, quando um assunto é muito repisado e exposto, aparecem as mais diversas opiniões e as redes sociais exploram o tema à exaustão. Esse fenômeno estabelece um olhar vesgo, não adequado, registrando potencialmente distorções que confundem a opinião pública. Hoje, a opinião pública é determinada pela repercussão do fato.

MUNDO: neste contexto, em função da cobertura mediática, o mundo estaria pior. A propósito disso, foi lançado o livro de Steven Pinker "O novo iluminismo: em defesa da razão, da ciência e do humanismo" (Companhia da Letras, R$ 84,90), que aborda exatamente essas distorções. Em entrevista de página inteira à Folha de São Paulo, publicada no dia 03 de setembro de 2018, Pinker disse: "Isso decorre da natureza do noticiário e da mente humana. A mente humana avalia risco e perigo por meio de exemplos vividos, imagens e narrativas. Não somos intuitivamente estatísticos. Se lemos uma reportagem marcante sobre alguém sendo mordido por um tubarão, um terrorista jogando seu carro no meio das pessoas na calçada, ou um ataque numa guerra, isso nos faz pensar que esse tipo de incidente é extremamente comum... Só quando você compila dados, como eu fiz, é que consegue compreender as enormes mudanças benéficas que ocorreram no mundo". Para ele, o mundo está muito melhor hoje.

ALÉM DA MÍDIA: o problema não está só na mídia, está também nas pessoas, que, segundo Pinker, têm a tendência de focar o lado negativo das coisas: "Há estudos bem conhecidos mostrando que o ruim é mais forte que o bom; do ponto de vista psicológico, estamos mais preocupados com o que pode dar errado do que com o que pode dar certo...". Então, talvez seja por isso que você está sempre mais interessado em ver o início das corridas de Fórmula 1, momento em que acontecem mais acidentes. Nessa lógica, é natural que a mídia retrate o incomum e que os programas que noticiam crimes tenham maior audiência. Histórias apócrifas dizem que jornais que dão boas notícias não saem das bancas.

IDEIAS FALSAS: então o título deste Boletim Eletrônico está adequado. Para falar que o pessimismo e o lado negativo prevalecem na percepção das pessoas, não há adjetivação. É um título que subsiste por si só, embora reconheçamos estar longe da capacidade de nossos grandes jornais e noticiários em trabalhar com as manchetes. Caso famoso do velho "Notícias Populares" conta que um repórter indo ao local do crime, nada encontrou. Perguntando aqui e ali somente descobriu que o corpo fora enterrado no quintal. Ao tirar fotos, percebeu que no quintal havia bananeiras e sacou o título "adubava bananeiras com cadáveres". Havia um palestrante da cidade de São Paulo que falava sobre mortes no trânsito e, invariavelmente começava as suas palestras com uma notícia falsa: dizia que acabara de saber de um acidente com trem na Serra do Mar que ocasionara a morte de 300 pessoas. A surpresa e comoção eram imediatas. Ele desmentia, explicava o impacto do número de vítimas e explorava o fato de que naquela semana realmente tinham morrido 300 pessoas no trânsito brasileiro. Hoje, são 50 mil mortes por ano. O professor Pinker é um psicólogo canadense, naturalizado norte-americano e dá aulas em Harvard.  Tem outros livros publicados no Brasil e você pode encontrar alguma de suas palestras em ted.com

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