quarta-feira, 19 de agosto de 2015

UGTpress: PLURALIDADE EXIGE CUIDADOS

INFÂNCIA SINDICAL: as centrais de trabalhadores são experiências novas no Brasil. Começaram a ser formadas nos anos 80 do século passado, em que pesem registros anteriores mostrando tentativas frustradas. Hoje, temos muitas centrais, talvez mais do que recomendaria o bom senso e a prudência. O ideal, comprovado mundialmente, seria poucos sindicatos com muitos trabalhadores filiados. Em países com uma única central, a luta é mais eficiente. Como o Brasil ainda está em sua infância política (menos de 30 anos da Constituição de 1988), é razoável supor que está também em sua infância sindical. As maiores centrais mundiais, a exemplo dos partidos, desenvolveram-se a partir de opções políticas, religiosas e ideológicas. Nem todas permaneceram assim. Houve evolução: nos países nórdicos prevaleceu o pragmatismo e nos latinos a coloração política. Nas Américas, temos todos os exemplos. No Brasil, pode-se dizer, nem sempre foi assim, mas também há centrais com predominâncias políticas ou ideológicas. São mais raras (ou praticamente inexistentes) entre nós as tendências confessionais. As centrais brasileiras não são, digamos, puro sangue. A maioria se diz pluralista. O pluralismo agasalha várias tendências e, portanto, confirma-se o caráter diversificado de boa parte delas.
ORGANIZAÇÃO ESPECIAL: apesar da longevidade do sindicalismo brasileiro de base, nossa legislação, na maior parte, ainda é regida pela velha CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Claro, são necessários aperfeiçoamentos pontuais, porém, na atualidade, o Brasil ainda é invejado por sindicalistas de outros países. A invenção da Contribuição Sindical, embora discutida no interior das organizações, é única e defendida pela maioria das lideranças. Não há dúvida que uma ruptura política ao largo da Constituição, por certo, destruirá a legislação que temos hoje combatida em instâncias empresariais, políticas e judiciais. Não é objetivo de UGTpress discutir aqui estes aspectos legais, que demandam encontros, reuniões, seminários, simpósios e congressos internos. O tema tem conteúdo polêmico. Contudo, é preciso alertar que o esgarçamento do tecido político, com a inevitável divisão dos sindicatos, poderá acarretar a reação de setores conservadores, todos com muita sede de vingança. Eles não vão dissociar os partidos dos sindicatos. A rigor, não há hoje no Brasil um grupo que tenha a confiança de todos. Enfim, não existe consenso político. Soluções intempestivas ou ocasionais da crise política e econômica poderão revelar o caráter perverso de nossas elites conservadoras. Os sindicatos precisam ajudar a buscar o consenso. 
IMBRÓGLIO POLÍTICO: há inequívoco imbróglio político e a divisão na sociedade e nos sindicatos mostram que a corrupção de uns não é igual a de outros. Todas as mazelas, nos últimos exatos 20 anos, são absolutamente iguais. Por oportuno, citamos um trecho do artigo do Vladimir Safatle, de 14/08, na Folha de São Paulo: “... o mensalão tucano não teve nada a ver com o mensalão petista. A compra de deputados por FHC foi "outra coisa", assim como a corrupção no metrô de São Paulo: mesmo abrindo processos nas justiças da França e da Suíça, ela não justificaria uma reles CPI do Tucanistão, vulgo Estado de São Paulo. A corrupção do PT foi caixa dois, como sempre foi feito. Todos nós conhecemos bem esses raciocínios. Mas não, meus amigos, a corrupção do seu partido do coração não é "outra coisa". Ela é a "mesma coisa". É por pensar assim que estamos nesta situação. Ela só terminará quando o último corrupto petista for enforcado nas tripas do último corrupto tucano." Não deixa de ser interessante a lembrança de uma frase que foi sendo adaptada ao sabor dos acontecimentos políticos. Há controvérsias, mas provavelmente a frase teria sido proferida pela primeira vez por Diderot ("a miséria do mundo só acabará quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre"). Em outras palavras: na classe política brasileira não há inocentes.
CHAMAMENTOS À RAZÃO: duas publicações pagas na imprensa paulistana, também em 14/08, são consideradas "chamamentos à razão". Isso acontece exatamente pela falta de consenso no universo político. Citamos as duas ultimas frases dos respectivos documentos: "É necessário buscar soluções de consenso entre os Poderes Executivo e Legislativo, que precisam urgentemente superar o atual estágio de conflito. Só assim, juntos, como brasileiros, encontraremos uma solução que fortaleça nossa economia, estabeleça o equilíbrio nas relações político-partidárias e promova a necessária governabilidade" (Cbic, Fiabci-Brasil, Secovi-sp, Abrainc e Sinduscon-sp); "Por isso, os Sindicatos abaixo assinados declaram-se dispostos, e conclamam os demais segmentos da sociedade civil organizada, a reestabelecer as pontes para o necessário diálogo visando a construção de compromissos e acordos para fortalecer a democracia, o crescimento econômico e o desenvolvimento nacional" (Metalúrgicos SP, Metalúrgicos ABC, Comerciários SP, Hotéis SP, Água, Esgoto e Meio Ambiente SP, Tecnologia da Informação SP, Bancários SP, Construção Civil SP, Fecomerciários SP, Químicos e Plásticos SP, Telefônicos SP e Edifícios SP). São patrões e trabalhadores, com pontuais diferenças, pedindo o mesmo. A crise não se solucionará se determinado grupo político sobrepujar outro. Seria mudar para continuar como está, como sempre aconteceu ao longo de nossa história. É preciso pensar no Brasil!
PLURALIDADE EXIGE CUIDADOS: se as publicações acima foram feitas por organizações de primeiro grau, sabe-se também que há falta de consenso nas organizações patronais e de trabalhadores. A pluralidade exige cuidados. É necessário respeito pelas opiniões divergentes, contrárias a este ou aquele ponto de vista. Nas centrais de trabalhadores, há representantes de todos os partidos. Esses representantes não podem internamente impor pontos de vista ou ser intolerantes com os colegas eventualmente simpatizantes de partidos que não sejam os seus. Especialmente, as correntes ou tendências devem procurar não comprometer a organização e trabalhar para a busca de um consenso interno. Se não for possível o consenso, que cada organização filiada, por seus estatutos ou respectivas lideranças, manifeste-se de acordo com as suas crenças. Isso vale para a UGT (União Geral dos Trabalhadores) e também para as demais. A solução dos problemas do Brasil não passa por rupturas constitucionais e nem por quarteladas. Não estamos mais no tempo de soluções paliativas. A mera substituição de um grupo de poder por outro não apresenta resultados em longo prazo. Hoje, mais do que nunca, o futuro do Brasil depende da capacidade de discernimento de suas lideranças.  Ser consequente é preciso!  

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