terça-feira, 9 de outubro de 2018

UGTpress: ELEIÇÕES FORA DA CURVA

2018: as eleições de 2018 ficarão marcadas como um ponto fora da curva, onde partidos tradicionais perderam a embocadura e nomes tradicionais foram descartados pelos eleitores, mesmo em estados onde isso não ocorre habitualmente. Houve uma onda em direção à direita do espectro político, embora o quadro se mostre dividido, ainda entre esquerda e direita. O centro, sempre vitorioso no Brasil, permaneceu minoritário em função exatamente da polarização e deve ser agora cortejado pelos dois candidatos que disputam o segundo turno. A estatística mostra que em todas as eleições, depois de adotado os dois turnos, nunca um candidato que saiu atrás logrou ser vitorioso. Se isso se mantiver, a tarefa da esquerda apresenta-se gigantesca, quase impossível, mas não se pode desprezar sua militância.

REPETINDO CHÁVEZ: a situação da Venezuela sempre é lembrada como alguma coisa ruim, com a propaganda alardeando que não podemos imitá-la. Os autores dessa retórica são os políticos da direita, para os quais a ideia de venezuelização do Brasil deve ser combatida. Pois o candidato de direita que emergiu das urnas tem uma trajetória bem parecida com a de Hugo Chávez, embora este nunca tenha sido político antes de ocupar a presidência. A semelhança é exatamente por pertencer às Forças Armadas (capitão reformado), desprezar o establishment, apoiar-se no combate à corrupção e defender ideias conservadoras. Também criticar o sistema partidário, a ponto de dizer que neste segundo turno não pretende ter qualquer apoio dos partidos políticos. Sua preferência em termos de apoio recai em nomes notáveis do universo político.

RENOVAÇÃO: apesar de merecer ainda uma análise mais detalhada, as primeiras constatações que emergiram das urnas, de norte a sul do país, com exceções pontuais, são que houve uma grande renovação dos quadros políticos, nas assembleias legislativas, na Câmara Federal e no Senado da República. Na onda de valorização da direita, por intermédio do pequeno partido (PSL) que saiu vitorioso em quase todas as regiões brasileiras (exceção do Nordeste), houve a eleição de nomes novos e a derrota de velhos caciques. Nos próximos dias e semanas, depois do segundo turno (ainda há disputas importantes em alguns estados), poderemos avaliar melhor o quadro, mas tudo indica que essa renovação pode modificar o equilíbrio de forças nas casas legislativas, exigindo um maior esforço de composição por parte dos governadores e presidente eleitos.

SEGUNDO TURNO: a ideia de segundo turno, gestada na Constituinte, foi saudada como um avanço importante para o Brasil. Os candidatos se apresentam e os eleitores escolhem livremente. Depois, no segundo turno, se cristalizam as opções. Nesta eleição de 2018 parece que isso não aconteceu e preponderou o chamado “voto útil” já no primeiro turno. Nomes tradicionais foram vítimas desse tipo de comportamento eleitoral, com candidatos de direita e esquerda vendo os seus votos migrarem para os nomes de maior densidade. Este comportamento funcionou como uma pá de cal em nomes da envergadura de Geraldo Alckmin e Ciro Gomes, notadamente do primeiro que teve um desempenho pífio em seu próprio estado.

PALAVRA EMPENHADA: parece que a maior vítima dessas eleições foi a palavra empenhada. Com o avanço das comunicações e mídias eletrônicas tornou-se mais fácil notar as incoerências e recuos em opiniões e afirmações. Contudo, isso não preocupa mais os eleitores. Candidatos dizem e se desdizem em diversas situações. Alguns assinam documentos em cartório se comprometendo em manter determinada posição, mas não a mantém e mesmo assim são bem votados. Com isso, perdem os eleitores. Aliás, pesquisas sérias confirmam que muitos eleitores esquecem em quem votou poucos meses depois do pleito, assinalando certo desprezo pelo processo eleitoral.

REFORMA POLÍTICA: apesar da renovação, do abandono a nomes tradicionais e da polarização em decorrência da insatisfação generalizada dos eleitores, essas eleições provaram ser urgente e necessária uma reforma política, conforme vem defendendo o presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah. A reforma política precisa extirpar o predomínio do poder econômico, dando oportunidade a novos nomes e gente mais preparada para exercer o ofício de político, uma atividade das mais importantes, infelizmente depreciada no Brasil.

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