terça-feira, 2 de maio de 2017

UGTpress: A MAIOR FRAUDE DA HISTÓRIA

YUVAL NOAH HARARI: doutorado na Universidade de Oxford e professor de história da Universidade Hebraica de Jerusalém, novo, pouco mais de 40 anos, nascido em Israel, Yuval Noah Harari é autor do livro "Sapiens: uma breve história da humanidade", no Brasil lançado pela L&PM Editores. Instigante, o livro vem dando o que falar nos mais de 40 países em que foi traduzido e publicado. Vamos abordar uma das ideias polêmicas constante do Sapiens (existem inúmeros temas provocadores): é a agricultura a maior fraude da história? A ideia, perturbadora em si mesma, segundo a ótica original do professor Noah, tem sentido, porém carrega controvérsias: "Durante 2,5 milhões de anos, os humanos se alimentaram coletando plantas e caçando animais que viviam e procriavam sem sua intervenção. Tudo isso mudou há cerca de 10 mil anos, quando os sapiens começaram a dedicar quase todo o seu tempo e esforço a manipular a vida de algumas espécies de plantas e animais. Do amanhecer ao entardecer, os humanos espalhavam as sementes, aguavam as plantas, arrancavam ervas daninhas do solo e conduziam ovelhas a pastos escolhidos...  Foi uma revolução na maneira como os humanos viviam - a "Revolução Agrícola". Até aí uma constatação.

A VIDA PIOROU? sempre acreditamos que a Revolução Agrícola proporcionou o mais extraordinário progresso para a humanidade. Esse progresso teria sido uma fantasia? O professor Noah acha que sim. Para ele, a agricultura trouxe uma vida mais difícil, com muito trabalho, mais do que na época dos caçadores-coletores. "Estes passavam o tempo em atividades mais variadas e estimulantes... Em média, um agricultor trabalhava mais e obtinha em troca uma dieta pior". O professor, em seu livro, mostrou-se implacável: "A Revolução Agrícola foi a maior fraude da história. Quem foi responsável? Nem reis, nem padres, nem mercadores. Os culpados foram um punhado de espécies vegetais, entre as quais o trigo, o arroz e a batata. As plantas domesticaram o Homo sapiens, e não o contrário!". Esta, uma das ideias mais extravagantes e sofisticadas do livro: foram as plantas que domesticaram a humanidade! Sempre pensamos o contrário.

CONSEQUÊNCIAS: o exemplo no qual se apoia o professor Noah vem do trigo, que em alguns milhares de anos, passou de uma simples gramínea no Oriente Médio, a uma cultura que se espalhou pelo mundo, cobrindo 2,25 milhões de quilômetros quadrados da face da Terra. Para se obter as calorias do trigo, necessárias à populações cada vez maiores, foi preciso derrubar matas, tirar água de muitos lugares, incluindo as reservas do subsolo, e provocar a extinção em massa de animais e plantas. Nem falemos de poluição ou da exploração predatória de recursos finitos. "O trigo fez isso manipulando o Homo sapiens a seu bel-prazer. Esse primata vivia uma vida confortável como caçador-coletor até por volta de 10 mil anos atrás, quando começou a dedicar cada vez mais esforços ao cultivo do trigo. Em poucos milênios, os humanos em muitas partes do mundo estavam fazendo não muito mais do que cuidar de plantas de trigo, do amanhecer ao entardecer".

O OUTRO LADO: a Revolução Agrícola trouxe aos humanos a desconhecida vida sedentária, fixou-os pela primeira vez em certos rincões e, em consequência, surgiram grandes agrupamentos, aldeias, vilas e cidades. Nasceram as relações sociais. Daí ao aparecimento das culturas, dos mitos e das religiões foi um passo. Se você for tão rigoroso quanto o professor Noah, pode acrescentar o surgimento dos impérios, das guerras de conquistas e da necessidade de segurança, que perduram até hoje. Mas, surgiram também as invenções, as descobertas, as vacinas e as próteses. Ainda a música, a literatura, as artes em geral. Em decorrência da Revolução Agrícola, a humanidade entrou no último milênio no iluminismo, no predomínio das ciências e no limiar da nova e derradeira revolução: a Revolução Tecnológica.

REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA: certamente, a partir deste terceiro milênio haverá a consolidação da mais impressionante das revoluções humanas: a Revolução Tecnológica. Ela é produto do avanço civilizatório desde que o homem fez o primeiro objeto cortante de sílex. Veio recebendo aperfeiçoamentos através de gerações e acelerou-se na segunda metade do século 20, quando o progresso deixou de ser contado em séculos para ser registrado em décadas. Essa revolução causa medo porque chega quando o homem ainda não construiu uma paz definitiva e convive com divisões de todo o tipo, desde territoriais, políticas, religiosas e raciais. No que interessa a nós trabalhadores, a Revolução Tecnológica causa mudanças rápidas e profundas, provocando altos índices de desemprego. Haverá cada vez menos a utilização do trabalho braçal e cada vez mais o uso de máquinas e equipamentos, todos redutores de mão de obra. Aquele mundo descrito pelo professor Noah em que homem trabalhava do amanhecer ao entardecer, buscando alimentos com o suor de seu rosto, está desaparecendo. Novos produtos, novas fórmulas de circulação de capitais e novas profissões moldarão o futuro em curtíssimo prazo. As novas gerações, não sabemos, poderão pagar alto preço por viverem na transição entre esses dois mundos. É provável que, em decorrência dessas dramáticas mudanças, a população mundial se estabilize rapidamente e até se reduza ao fim deste e nos próximos séculos. A Revolução Agrícola, fraude ou não, está muito longe da atual Revolução Tecnológica. Entramos na era da incerteza! 

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