PROJETOS E
MANIFESTAÇÕES: rápidas
constatações, praticamente visuais e, se visuais, limitadas e incompletas,
mostram um tênue fio de compreensão: as manifestações não terminaram, estão
latentes, prontas para explodir novamente. Setores do governo trabalham com a
hipótese delas voltarem à época da Copa do Mundo. Por isso, a alteração do
calendário escolar e os estudos e pesquisas sobre os cenários possíveis em
curto prazo. Em um deles, dos poucos divulgados, a preocupação está na
performance da seleção brasileira de futebol: se boa, uma onda de euforia
poderá tomar conta do país; se mal, desclassificada entre a primeira fase e as
oitavas de final, ao contrário, poderemos ver regurgitar o excedente de
insatisfação, resultado das questões mal resolvidas de 2013.
POLÍCIA
DESPREPARADA: os
acontecimentos do último sábado (25), em São Paulo, tinham tudo para ser algo
secundário: cerca de mil manifestantes, alguns exageros dos black blocs
que deveriam ser punidos exemplarmente. Acabaria por aí. Ocorre que a polícia
paulista baleou um jovem de 22 anos (Fabrício Proteus Nunes Mendonça que se
encontra em estado grave), após persegui-lo. As imagens são claras: perseguido
por dois policiais, o jovem se virou contra um deles e o outro sacou a arma e
atirou, talvez sem necessidade. A professora da Unifesp, Esther Solano, alertou
que a violência pode aumentar em função do episódio. Ela afirma que esse grupo
radical é heterogêneo, está mais apto, preparado e disposto a intensificar os
protestos. Do outro lado, está a polícia paulista, já responsável pela
radicalização dos protestos em 2013.
VIOLÊNCIA
E MARGINALIDADE: os atos
de violência que explodiram entre o final de 2013 e o início de 2014 indicam
que a escalada da delinquência, dos crimes e do narcotráfico, nos últimos anos,
só recrudesceu. Não houve tréguas e nem diminuição dessa onda de criminalidade,
seja porque não houve uma ação coordenada e inteligente das autoridades, ou
porque há um lastro de impunidade a permear a ação da Justiça. Pior ainda são
os sinais de intensa contaminação do aparelho repressivo, com repetidos
exemplos de participação dos policiais (civis e militares) em atos desprovidos
de qualquer cobertura legal, ética ou moral. Tudo nesse campo parece solto, sem
direção e fora de controle. O povo se acostuma porque vê todos os dias os
programas televisivos, mostrando as calamidades e abusos. Não há nada
edificante nisso porque a violência é banalizada. Enquanto os políticos e as
autoridades fazem de suas agendas públicas uma agenda de negócios particulares,
fica relegada a agenda necessária, aquela que diminuiria estatisticamente a
criminalidade e que aparelharia eficazmente os agentes e órgãos responsáveis
pela segurança pública. Essa é uma herança dos anos anteriores e que vai
perdurar ainda por muitos outros anos, até que a saturação da violência
provoque uma espetacular reação, seja de onde for.
ECONOMIA
E FINANÇAS: o país
não é diferente das empresas ou das famílias, enquanto unidade econômica. As
finanças precisam estar em ordem, não se pode gastar mais do que se arrecada. O
Brasil está ameaçado por malabarismos contábeis, aqueles que mostram um
país economicamente saudável, embora existam razões para fundadas preocupações.
Os primeiros a sentir os sinais de perigo são os empresários. Eles recuam em
seus investimentos, tomam medidas para cortar custos e despesas, preparam-se
para tempos piores. A classe média, muito criticada pelos ideólogos de plantão,
é a outra ponta crítica a apontar as mazelas do sistema. Em geral, os sinais
demoram a ser percebidos pelas classes de menor poder aquisitivo, isso enquanto
perdurar o paradoxo brasileiro: país sem crescimento, mas com alta oferta de
empregos, um fenômeno que começa a chamar a atenção do mundo. Esses
malabarismos contábeis (contabilidade criativa ou alquimia contábil) apenas
adiam as consequências imediatas de uma situação real pior, mantendo a chama da
continuidade política. Esse é o objetivo da equipe econômica: manter o "status
quo",algo que permita a transição tranquila do ano eleitoral.
A dúvida que persiste é se o país estará procedendo da mesma forma em 2014, de
maneira a imitar 2013 e esperar pela imprevisibilidade em 2015.
SISTEMA
COMPLEXO: o
sistema político brasileiro é extremamente complexo, embora com as premissas
das democracias modernas: poderes organizados e razoavelmente independentes,
partidos políticos e eleições regulares. Mas, algo está fora do prumo: aqui não
são as eleições que determinam antecipadamente a formação do esqueleto
político. Depois das eleições, na divisão dos ministérios/secretarias, é que
surgem as alianças, que não são firmes, são instáveis, mudando ao sabor das
conveniências. Essas alianças são fruto de um sistema apodrecido, negocial,
carcomido pelo hábito, cuja deterioração no tempo constata-se à saciedade.
Somente reformas profundas, sérias, podem corrigir as deformações do sistema
político brasileiro. As ruas pediram isso, o governo acenou com isso, mas nada
se fez. Essa letargia não estará impune, será cobrada com juros e correção
monetária.
DEMANDAS
E RESPOSTAS: as
demandas da sociedade brasileira exigem respostas. As instituições precisam
ajudar na solução dessas demandas. O sindicalismo, das instituições mais
importantes, não pode agir como "base aliada" ou será atropelado por outras
manifestações da vontade popular. Não é preciso ser do contra ou oposição para
auxiliar o governo a desatar o nó górdio de nossa organização política. É
preciso sensibilizar aqueles que estão à frente do governo, dos partidos
políticos, dos sindicatos e das demais organizações sociais, informando-os que
chegou a hora do basta: para que todos sobrevivam é preciso mudar, reformar,
buscar a modernização do Estado e da democracia. Fazer isso logo, antes que
seja tarde demais.
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