SÃO PAULO - Depois de terem sido castigadas com as
mudanças de regras no setor, os analistas começam a vislumbrar no horizonte um
período de alívio para as ações de empresas elétricas. Eles avaliam que, a
médio prazo, esses papéis podem recuperar o perfil defensivo, ou seja, o de
ações que não apresentam oscilações muito bruscas. No horizonte dos analistas
também já existe a perspectiva de que essas ações voltem a pagar bons
dividendos (divisão do lucro das empresas), o que as coloca novamente no radar
dos investidores.
A primeira notícia positiva é que a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), órgão regulador do setor, sinalizou que
irá atender aos pedidos de reajuste das tarifas feitos pelas empresas. Isso
ajuda a recuperar uma parte do tombo no caixa dessas companhias, decorrente da
decisão do governo federal de antecipar a renovação das concessões das
geradoras de energia e exigir redução das tarifas. Com expectativa de um fluxo
de receita menor, as ações foram imediatamente punidas pelo mercado. Algumas
acumulam perda de 37%, caso da AES Eletropaulo, desde setembro de 2012, quando
houve a intervenção federal. Pesou também sobre os papéis o custo extra que
algumas elétricas tiveram com o uso de energia térmica, mais cara que a
hidrelétrica, e com as compras de energia no mercado livre, cuja cotação
atingiu um valor recorde no início do ano.
CAUTELA COM ESTATAIS
Outra expectativa positiva do mercado tem a ver com
o clima. Os meteorologistas preveem um inverno chuvoso em algumas regiões do
país, o que deve fazer o nível dos reservatórios subir. Assim, fica afastada a
hipótese de um apagão, outro fantasma que rondava o setor. Nessa conjunção de
fatores, as ações de algumas empresas têm espaço para ganhar força na Bolsa.
- Algumas companhias, como a CPFL, oferecem bom
potencial de retorno ou de dividendo (divisão do lucro). Mas ainda é preciso
certa cautela com esses papéis, principalmente das empresas controladas pelo
governo, já que há eleições este ano. Agora, é preciso ser mais seletivo -
afirmou Karina Freitas, analista da Concórdia Corretora.
Até agora, os reajustes dados pela Aneel estão em
linha com o aumento dos custos das distribuidoras. A Copel, que atua no Paraná,
por exemplo, teve autorização para elevar as tarifas em 35,05%, embora o
governo do estado tenha pedido suspensão do reajuste. A AES Eletropaulo,
responsável pela distribuição na Região Metropolitana de São Paulo, solicitou
16,69%, e a decisão será anunciada esta semana.
Entre as companhias do setor privado, a CPFL
aparece como uma das favoritas para integrar a carteira de quem está
interessado no setor. Os analistas ressaltam que a empresa é bem administrada e
está diversificando sua matriz, investindo em energia renovável. Os papéis de
AES Eletropaulo e Tractebel também são vistos como boas opções.
Para Luis Gustavo Pereira, analista da Guide
Investimentos, o próprio desaquecimento da atividade econômica tem ajudado o
setor. Com crescimento menor, o consumo de energia cai, afastando o risco de
racionamento.
- O desaquecimento da economia ajuda a reduzir a
demanda por energia - explica.
EXPECTATIVA SOBRE DIVIDENDOS
O analista Bruno Piagentini, da Coinvalores, lembra
que em anos anteriores a Aneel não atendeu integralmente aos pedidos de
reajuste feitos pelas companhias. Na atual rodada de revisão tarifária, a
percepção é que o órgão regulador reconhece que os custos subiram e deve
atender às necessidades de aumento de tarifa.
- Esperamos algo mais positivo para esse ciclo de
revisão tarifária. Ele deve ser mais favorável às distribuidoras - diz o
analista, ressaltando, porém, a indefinição sobre um possível novo socorro do
governo às empresas que ainda não conseguiram cobrir todos os custos extras da
energia mais cara dos últimos meses.
Também existe a expectativa, no mercado, de que as
empresas do setor elétrico voltem a ser boas pagadoras de dividendos, como
ocorria antes da mudança de regras. Com caixa menor e menos previsível, a
distribuição de dividendos caiu da faixa dos 10% para os 6%. De acordo com os
analistas, a CPFL é a exceção nesse quesito: ela praticamente manteve o nível
dos dividendos, mesmo depois das mudanças.
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atraentes
30/06/2014 por O Globo
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