terça-feira, 28 de outubro de 2025

Sem sindicatos, até o ar teria dono

 O sindicalismo é contemporâneo da modernidade — e continua sendo o escudo que impede o trabalhador de voltar ao tempo dos senhores e servos.


Marcos Verlaine*


Os sindicatos não são resquício do passado — são uma das maiores invenções humanas e conquistas da modernidade. O sindicato é avanço civilizatório.


Como lembra Antônio Augusto de Queiroz, em sua cartilha “Para que serve e o que faz o movimento sindical” (Diap, 2017)¹, o sindicalismo nasceu da necessidade de equilíbrio entre capital e trabalho, num mundo que transformou o ser humano em força produtiva descartável.


Sem o sindicato, o trabalhador enfrenta sozinho o poder econômico, jurídico e político do capital.


O movimento sindical é, portanto, a forma organizada da resistência, o instrumento que impõe limites ao lucro e faz do trabalho espaço de dignidade — e não de submissão e exploração desmedida.


Voz que protege o trabalhador

O papel do sindicato vai muito além das negociações salariais. Esse instrumento do trabalhador representa, defende e educa.


Representa, às mesas de negociação; defende os direitos conquistados; e educa para a consciência de classe e a cidadania ativa.


Foi a luta sindical que garantiu: jornada de 8 horas, 13º salário, férias e descanso remunerado, licença-maternidade e paternidade, Previdência e Seguridade Social.


Sem essa força coletiva, a história seria outra: o lucro seguiria sem limites, e o trabalhador teria de “pagar pelo ar que respira”, como provoca o autor deste — metáfora precisa para o que seria a vida sem contrapoder social.


Sindicalismo é modernidade

O sindicalismo é filho da Revolução Industrial (1760-1840) e irmão da democracia moderna².


Nasce no mesmo impulso civilizatório que reconhece direitos, organiza o Estado e limita o poder econômico.


Por isso, atacar os sindicatos é negar a própria modernidade.


Nas novas formas de trabalho — aplicativos, plataformas, contratos precários —, o sindicato é o único elo capaz de transformar o trabalhador isolado em sujeito político.


Não é o passado que o sindicalismo representa, mas o futuro possível do trabalho humano.


Sem organização, não há liberdade

A história comprova: onde o movimento sindical é forte, há menos desigualdade, maior redistribuição de renda e mais democracia.


Onde é enfraquecido, prosperam o medo, o individualismo e o retrocesso.


O sindicato é a instituição que dá voz àqueles que vivem do próprio esforço — a tradução concreta da palavra “solidariedade”.


Não há liberdade no trabalho sem organização coletiva. Não há cidadania sem sindicalismo. Não há democracia sem sindicalismo.


O que o capital teme

O que o capital teme no sindicato não é a greve, mas a consciência.


Trabalhador que entende seu papel na engrenagem social é menos manipulável, mais exigente e mais livre.


É isso que o sindicalismo promove: a emancipação pelo coletivo.


É por isso que, em todos os momentos históricos, os sindicatos foram atacados pelos mesmos interesses que exploram o trabalho e concentram a renda.


Mas também é por isso que seguem vivos — porque representam a essência do direito à dignidade.


Respirar é um ato político

O sindicalismo é o que resta de moderno numa sociedade que insiste em retroceder.


Enquanto houver exploração, haverá sindicato — e será esse o primeiro a lutar para que ninguém precise pedir licença para viver, trabalhar ou respirar.


Porque, sem sindicatos, até o ar teria dono.


(*) Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap

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¹ Antônio Augusto de Queiroz — “Para que serve e o que faz o movimento sindical”, publicado pelo Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), 2017, 3ª edição atualizada e ampliada.

² A concepção de democracia moderna surgiu após as revoluções Americana (1776) e Francesa (1789), que romperam com o Antigo Regime absolutista.

 

Fonte: Diap

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